A criação dos filhos pode gerar dúvidas, apreensão e insegurança nos pais. Não existe um manual com instruções que nos diga como agir. Será que agi corretamente? Será que dei atenção suficiente aos meus filhos? E a qualidade desse tempo foi boa? Fiz essas perguntas a mim mesma várias vezes. Acredito que muitos pais também as façam, principalmente durante a infância das crianças. A cobrança que nos impomos sobre a criação dos nossos filhos é grande, como se estivéssemos sempre em débito com algo. Além disso, todo mundo quer dar um palpite sobre o que os pais deveriam fazer. Porém, a verdade é que não existe perfeição e isso gera uma sensação de frustração.

Uma forma de reduzir essa sensação seria fazer um diário das atividades realizadas com os filhos ao longo do dia. Assim, teríamos mais clareza sobre o que foi feito e como nos sentimos com essas atividades, tanto nós quanto as crianças. Outro aliado seria buscar diferentes formas de interagir com os filhos. Chega um momento em que a falta de imaginação vence, e o que muitas pessoas têm feito é recorrer a sites e aplicativos em busca de novas atividades para interagir com os filhos. Essa é a era digital.

Ao mesmo tempo, diversas pesquisas mostram como o uso excessivo de celulares pode ser prejudicial às relações humanas, já que as pessoas se conectam menos entre si. É mais uma complicação na já difícil tarefa de cuidar. No entanto, em algumas situações, o celular pode se tornar um aliado em vez de um vilão —tudo depende da forma como é utilizado.

Neste mês de junho, participei de uma das principais conferências da área de Economia da Família. A conferência da SEHO (Society of Economics of the Household) foi realizada em Zaragoza, na Espanha. Uma entre muitas apresentações a que assisti chamou mais minha atenção: Promoting parental time -investments in preschool children through a mindful parenting program. Os pesquisadores desenvolveram um aplicativo que foca na melhoria e na mensuração do tempo despendido entre pais e filhos de crianças em idade pré-escolar, de 4 e 5 anos. O app se chama MinUTo (do inglês MINd Us TOgether).

Os objetivos envolvem melhorar a relação entre pais e filhos, sua qualidade, reduzir o estresse parental e aumentar a parentalidade consciente. Além disso, busca-se mensurar a qualidade do uso do tempo na relação entre pais e filhos, distinguindo atividades com menor ou maior grau de interação e seu impacto no desenvolvimento infantil. Os autores utilizaram esse aplicativo em diferentes momentos entre 2020 e 2022. Os pais participantes da intervenção tinham filhos de 4 ou 5 anos matriculados em escolas municipais da região de Emilia-Romagna, na Itália.

Os resultados apresentados até o momento apontam para diferenças entre tempo alocado e qualidade nos dias da semana e nos fins de semana. Os pais alocam mais tempo, e de maior qualidade, com os filhos durante o fim de semana. Além disso, os pais passam menos tempo com os filhos do que as mães durante os dias úteis; inclusive, o tempo de qualidade dedicado pelas mães é o dobro do alocado pelos pais. Porém, essa diferença tende a desaparecer nos fins de semana. Esse último resultado deve estar associado à distribuição desigual do tempo dedicado aos cuidados infantis entre mães e pais, em que a mulher, tradicionalmente, é a principal cuidadora.

Os achados sugerem que a mãe ainda exerce um papel preponderante no desenvolvimento infantil. Fico curiosa para saber quais seriam os resultados se essa pesquisa fosse realizada no Brasil.


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