Um dos vídeos liberados nesta terça-feira (3) pelo STF (Supremo Tribunal Federal) mostra o momento em que o ministro Alexandre de Moraes ameaça prender o ex-ministro da Defesa Aldo Rebelo por desacato.
Aldo prestou depoimento ao Supremo como testemunha da defesa do ex-chefe da Marinha Almir Garnier Santos no processo sobre a trama golpista de 2022.
Logo no início do depoimento, o ex-ministro da Defesa recorreu a expressões comuns da língua portuguesa para afirmar que nem sempre uma frase deve ser lida de forma literal. Ele usava o argumento para desacreditar a afirmação da PGR (Procuradoria-Geral da República) de que Garnier teria aderido aos planos golpistas.
“Quando alguém diz ‘estou frito’, não significa que esteja dentro de uma frigideira. Quando alguém diz ‘estou apertado’, não significa naturalmente que esteja sendo submetido a algum tipo de pressão literal. Então quando alguém diz ‘estou à disposição’, a expressão não deve ser lida literalmente”, disse Aldo.
Moraes disse que o ex-ministro não estava presente na reunião em que Almir Garnier se colocou à disposição dos planos golpistas de Bolsonaro e que deveria se ater aos fatos. Aldo, em resposta, disse que não aceitaria censura à “minha apreciação sobre a língua portuguesa”.
“Se o senhor não se comportar, o senhor será preso por desacato”, disse Moraes.
O Supremo divulgou nesta terça o vídeo de todos os depoimentos das mais de 50 testemunhas do processo sobre a trama golpista de 2022. A fase de inquirição terminou na segunda-feira (2).
Dias após o episódio, Aldo disse que Moraes tentou intimidá-lo durante a audiência.
“Na verdade, o que houve ali foi uma tentativa de intimidação de testemunha”, afirmou. “O juiz pode desconhecer o depoimento, pode não considerar. Agora, como agiu, pressionar testemunha, não.”
“Acho que [Moraes] deveria pedir desculpas” , completou.
Embora tenha sido ministro de Lula e Dilma e filiado ao PC do B, Aldo se distanciou da esquerda nos últimos anos e se aproximou do bolsonarismo. Em 2024, foi nomeado para o cargo de secretário de Relações Internacionais do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), então candidato do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) nas eleições municipais.