Com quatro ministérios no governo Lula (PT), a superfederação entre PP e União Brasil foi lançada oficialmente nesta terça-feira (29) com discurso de oposição, a defesa de um “choque de prosperidade” para o país e conflitos não resolvidos que a impedem até de ter um presidente nesta fase inicial.
“O Estado não pode continuar sendo um obstáculo à prosperidade”, diz o manifesto da nova agremiação.
O documento prega ainda a responsabilidade fiscal e social, uma reforma administrativa e que o Estado seja indutor de desenvolvimento, mas com o capital privado “como motor do crescimento, com protagonismo central na criação de emprego e renda”. “A economia patina, e com ela o bem-estar dos brasileiros”, afirma o manifesto da chamada “União Progressista”.
O governo Lula não foi citado nominalmente em nenhum momento, mas as críticas veladas e até explícitas nortearam o evento, realizado no salão negro da Câmara dos Deputados. Os ministros do Esporte, André Fufuca (PP), e do Turismo, Celso Sabino (União Brasil), estavam presentes, mas não foram chamados para discursar.
“O Brasil não pode continuar sem crescer, o Brasil não pode continuar com esses escândalos de corrupção todos os dias, o Brasil não pode continuar como está”, discursou a senadora Tereza Cristina (MS), líder do PP no Senado e ex-ministra no governo Jair Bolsonaro.
A superfederação, que ainda precisa ser aprovada pelas instâncias partidárias, será o grupo mais forte do Congresso. Terá a maior bancada da Câmara, com 109 deputados federais, e do Senado, com 14 senadores (empatado com PSD e PL). Também terá a maior parcela dos fundos partidário e eleitoral e o maior tempo de propaganda eleitoral na TV e rádio.
Antes crítico da aliança, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), teve papel de destaque no evento e foi o primeiro a discursar após os presidentes dos dois partidos. “Essa construção será um grande divisor de águas”, disse o governador, que recebeu a promessa de apoio a sua pré-candidatura à Presidência da República caso atinja pelo menos 10% de intenção de voto nas pesquisas em março de 2026.
O tamanho da federação, afirmou Caiado, permitirá ao grupo ter peso e ser ouvido sobre os reais problemas do Brasil. “Hoje o cidadão não tem dinheiro para alimentar sua família. É aquela realidade onde a violência toma conta de todos os quadrantes deste país. Onde as facções ampliam o seu poder”, criticou.
“Em 2026, vamos ganhar as eleições no país e vamos subir a rampa do Palácio do Planalto”, declarou.
Entre as críticas veladas ao PT no manifesto, por exemplo, estão a defesa do Plano Real, “contestado por alguns em seu lançamento”, mas que na visão dos dois partidos foi o marco legal que “permitiu ao país recuperar a estabilidade”, e a falta de medidas para incorporar os beneficiários de programas sociais à atividade econômica.
As críticas no manifesto e nos discursos ocorreram apesar da participação dos dois partidos no atual governo –e também nos anteriores, como Michel Temer (MDB) e Bolsonaro (PL).
O União Brasil indicou três ministros do governo Lula: Turismo, Comunicações e Desenvolvimento Regional –os dois últimos, da cota do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP). Já o PP tem o Ministério do Esporte e a Caixa Econômica Federal. Fora os ministros, nenhum representante do governo ou do PT participou do ato.
Entre os convidados de fora estavam o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), o governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), e o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, partido do ex-presidente Bolsonaro.
DIVERGÊNCIAS INTERNAS
A nova federação nasce sem um presidente, diante de divergências internas. O ex-presidente da Câmara Arthur Lira (PP-AL) pleiteava a vaga, mas o presidente do União Brasil, Antonio Rueda, afirmou que só concordava com a aliança se assumisse a função. Sem acordo, Rueda e o presidente do PP, Ciro Nogueira (PI), farão uma “cogestão”.
Há também conflitos nos estados e a aposta de que, até a eleição, parte dos políticos de ambos os partidos deixará as siglas. De partida, o União Brasil terá o comando de nove estados e o PP também de nove, mas outros nove, como São Paulo e Rio de Janeiro, ficarão indefinidos, à espera de uma mediação pelo novo comando nacional da agremiação.
Líder do União Brasil no Senado, Efraim Filho (PB) disse que os conflitos regionais serão resolvidos depois. “Teremos todo o ano de 2025 para conversar. Nos estados onde não tiver acordo, a federação vai decidir qual projeto tem mais viabilidade eleitoral”, afirmou.
No caso das chapas para deputado, deve ser autorizado apoio a diferentes candidatos para evitar a perda de filiados. É o caso, por exemplo, da Bahia, onde parte da bancada do PP apoia o governador Jerônimo Rodrigues (PT), mas o União Brasil comandará a federação e tem como pré-candidato o ex-prefeito de Salvador ACM Neto.
“Neste momento, posições pessoais terão que ser respeitadas, mas o pensamento da federação será de agir em bloco”, disse Efraim Filho.