Um estudo mostrou que o programa chileno que inspirou o SuperAção SP, principal bandeira do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) para tirar famílias da pobreza e se contrapor a Lula, teve resultados parciais.
A pesquisa “Enfrentando a Exclusão Social: Evidências do Chile”, publicada em 2018 pela revista acadêmica da Universidade de Oxford, avaliou os impactos do projeto Chile Solidário, que foi criado em 2002 pelo governo do socialista Ricardo Lagos e foi substituído em 2013.
O programa consistia em visitas regulares de assistentes sociais a famílias de extrema pobreza durante dois anos, com transferência de renda no curto prazo e planos personalizados para melhoria de vida no médio prazo —princípios parecidos aos do projeto de Tarcísio, que deve ser discutido no plenário da Assembleia Legislativa (Alesp) na próxima semana.
Os pesquisadores compararam indicadores ao longo de uma década (2000 a 2009) de famílias em situação socioeconômica parecida, que fizeram ou não parte do programa, com impactos medidos em prazos de dois, quatro e seis anos após o início das visitas.
A conclusão foi que o projeto “não gerou melhorias significativas na participação no mercado de trabalho dos membros das famílias, nem em suas condições de moradia”, mas atingiu um dos seus objetivos centrais, que era “estreitar os laços entre a população em extrema pobreza e o sistema de proteção social”.
“O aconselhamento personalizado ajudou a ativar a busca por benefícios e serviços sociais por parte de famílias que, inicialmente, estavam alheias ao sistema. Infelizmente, conectar essas famílias aos serviços sociais não foi suficiente para gerar melhorias significativas em seu bem-estar”, escrevem.
O português Pedro Carneiro, um dos três autores do estudo e professor do departamento de economia da University College London (UCL), pondera que o público-alvo dos dois programas é diferente, o que pode ter grande impacto nos resultados.
“No caso chileno o público era muito específico: os 2% mais pobres e excluídos, famílias completamente disfuncionais, que não saberiam sequer o que é Bolsa Família. O programa de São Paulo é bem mais abrangente, com muitas famílias já registradas”, diz ele.
Carneiro foi chamado para colaborar com o SuperAção por meio do J-Pal (Laboratório de Ação contra a Pobreza Abdul Latif Jameel), uma rede de pesquisadores sediada no MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), nos EUA, que está em diálogo técnico com o governo paulista.
Segundo ele, apesar da hipótese do público-alvo, o estudo publicado em 2018 não teve dados suficientes para detalhar por que o programa não resultou em maior empregabilidade e melhores condições de vida dos participantes.
A secretária estadual de Desenvolvimento Social, Andrezza Rosalém, confirmou à Folha em maio a inspiração no programa chileno, mas disse que está “propondo uma grande inovação em aspectos como o atendimento personalizado e o olhar e escuta dedicados a cada família”.
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