A superfederação entre PP e União Brasil nasceu com um embate declarado pelo controle da nova estrutura política no estado de São Paulo e informações desencontradas entre seus dirigentes.
O deputado federal Mauricio Neves, presidente do PP no estado, se declarou líder estadual da federação em uma nota distribuída à imprensa por sua assessoria na manhã desta terça-feira (29), data em que a chamada “União Progressista” foi lançada em Brasília.
A nota foi desmentida horas depois pelo presidente estadual do União Brasil, Milton Leite, ex-presidente da Câmara Municipal da capital. “Esta nota não corresponde à verdade”, disse à Folha.
Neves recuou instantes após saber da negativa do colega.
Ambos os dirigentes estiveram em Brasília na manhã desta terça no evento que selou a aliança partidária. Posaram para fotos e publicaram conteúdo exaltando a aliança em suas redes sociais.
À Folha, ao comentar os rumos da nova estrutura, Leite havia afirmado que o comando da federação em São Paulo ficaria com ele.
O acordo, segundo Leite, previu que as verbas partidárias vindas do PP ficarão com os integrantes da sigla, e o mesmo ocorrerá com as verbas do União Brasil. Ainda de acordo com o ex-vereador, o União Brasil deu carta branca a candidaturas já colocadas na disputa eleitoral do ano que vem, como a de Guilherme Derrite, secretário da Segurança Pública recém-filiado ao PP, para o Senado.
Quando falou com a reportagem, contudo, o dirigente não havia sido informado da nota distribuída pela equipe de Mauricio Neves com informações diferentes.
“Em São Paulo, a Federação será liderada pelo presidente estadual do Progressistas, deputado federal Mauricio Neves, que trabalhou intensamente para a construção deste acordo”, dizia o texto do deputado federal.
A nota afirmava, ainda, que o parlamentar percorreria o estado para integrar líderes das duas siglas e trazia uma declaração entre aspas atribuída a ele afirmando ser necessário “unir forças” para derrotar a esquerda em 2026 —a nova federação possui quatro ministérios no governo Lula (PT).
Ao ser informado sobre as afirmações de Leite, Neves recuou, desmentiu o texto e atribuiu a informação equivocada à sua assessoria: “Quiseram puxar um pouco a sardinha”, disse o parlamentar à Folha.
Neves, entretanto, também não confirmou que o comando da federação no estado ficará com Leite. “Tudo será decidido em conjunto entre os dois partidos”, disse.
“Um dos critérios é o consenso dos diretórios estaduais. Caso não exista consenso, as questões serão decididas pela Executiva Nacional.”
Antonio Rueda, presidente do União Brasil, negou que o controle da federação no estado ficaria com Neves e confirmou as informações repassadas por Leite. A reportagem não conseguiu contato com Ciro Nogueira, presidente nacional do PP.
O União Brasil tem mais representação parlamentar do que o PP entre os paulistas. A bancada estadual do partido na Câmara dos Deputados tem sete assentos, contra cinco do PP. No caso da Assembleia Legislativa, são nove cadeiras para o União e três para o PP.
Na federação, as duas legendas terão de atuar como um único partido, com estatuto e programa partidário conjuntos, por um período mínimo de quatro anos.
O controle do União Brasil em São Paulo já havia sido objeto de disputa intensa quando a sigla surgiu, em 2021, da junção dos extintos PSL e DEM. O então presidente estadual do PSL, Junior Bozzella, disputou o controle da sigla contra Leite e saiu derrotado.
Leite, que anunciou que deixaria a vida pública no fim do ano passado, mas que manteria suas atividades partidárias, é considerado um dos políticos mais influentes da cidade de São Paulo. Ele tem um filho deputado estadual (Milton Leite Filho) e outro federal (Alexandre Leite), ambos pelo União Brasil.