A ameaça do presidente Lula de retaliar os Estados Unidos com tarifas de 50% sobre produtos importados, caso os americanos mantenham sanções econômicas contra o Brasil, pode atingir em cheio dois dos principais polos econômicos do Pará: Parauapebas e Canaã dos Carajás. Os dados foram levantados por Jorge Clésio.
Apesar de ambos exportarem quase toda sua produção para a China — principal destino do minério e da soja produzidos na região —, seus sistemas produtivos ainda são altamente dependentes de insumos, peças, máquinas e equipamentos importados dos Estados Unidos. E é aí que mora o problema.
Canaã dos Carajás: risco elevado
De janeiro a junho de 2025:
- Exportações para os EUA: 0%
- Exportações para a China: 62%
- Importações dos EUA: 61%
- Importações da China: apenas 10%
Ou seja, nenhum produto de Canaã vai para os EUA, mas mais da metade do que abastece o parque produtivo da cidade vem do território americano. Isso inclui maquinário agrícola, componentes da mineração, veículos, defensivos, fertilizantes e peças de reposição.
Com uma retaliação brasileira em forma de tarifa, o custo de operação da cidade tende a subir drasticamente, gerando efeitos em cadeia na agricultura mecanizada, mineração e obras públicas.
Parauapebas: cenário semelhante
Parauapebas, capital do minério de ferro, tem uma situação um pouco parecida:
- Exportações para os EUA: 0,02%
- Exportações para a China: 75%
- Importações dos EUA: 68%
- Importações da China: 12%
Apesar de o minério ser vendido quase todo para a China, os bastidores da operação (logística, manutenção de equipamentos, insumos industriais) seguem fortemente atrelados a fornecedores dos EUA. Um aumento de tarifas sobre esses produtos pode significar desde encarecimento de peças até interrupções na cadeia logística.
.https://portalcanaa.com.br/economia/paragominas-sentira-menos-caso-lula-retalhe-eua-com-tarifas/
O risco de um “tiro no pé”
A retaliação sugerida por Lula pode ter pouco impacto sobre os americanos — que já compram praticamente nada desses municípios —, mas pode gerar inflação, atraso e prejuízos operacionais dentro do próprio Brasil, especialmente em municípios produtores que dependem de tecnologia e componentes estrangeiros.
“Se os EUA forem taxados com reciprocidade, Canaã e Parauapebas estarão entre os primeiros a sentir no bolso. Porque quase tudo que precisam para funcionar vem de lá. E eles não vendem nada para os americanos”, resume a análise do cenário comercial.
China avança, mas não substitui os EUA
Mesmo com a ascensão da China como principal parceiro comercial em exportações, o gigante asiático ainda não consegue suprir a totalidade de insumos de alta tecnologia, confiabilidade e agilidade que os americanos fornecem, especialmente nas áreas de mineração, maquinário pesado e logística.
Se Lula decidir de fato responder com tarifas pesadas aos EUA, o Pará não ficará imune. Parauapebas e Canaã dos Carajás, dois dos motores econômicos do estado, estão diretamente na linha de impacto — e o prejuízo não será simbólico.