“Eu tenho amigos de esquerda que são até muito inteligentes”, dirá a vilã da novela das nove a Solange (Alice Wegmann), que foi presa como black bloc
Atenção, fãs de “Vale Tudo”: a vilã Odete Roitman (Debora Bloch) deixará claro nos próximos capítulos que, sim, é uma mulher de direita. A revelação vem de forma sutil, mas certeira, em uma conversa com Solange (Alice Wegmann), onde a empresária tenta disfarçar seu conservadorismo com um toque de ironia: “Eu tenho amigos de esquerda que são até muito inteligentes”.
A fala, que mistura condescendência com elitismo, confirma aquilo que muitos já especulavam antes mesmo da estreia do remake: a nova Odete seria uma versão atualizada do tipo que hoje muitos chamam de “bolsominion” — alguém que defende valores conservadores, tem desprezo por pautas sociais e exala uma postura autoritária, embora bem articulada.
“Nós duas podemos nos entender, apesar das nossas diferenças, que são muitas. Inclusive políticas”, dirá ela logo após descobrir que a nora foi presa como black bloc anos antes. Solange concordará: “É, são muitas diferenças mesmo.”. “O que não chega a ser um problema, porque faz parte da civilização conviver com pessoas que pensam diferente de nós, não é mesmo? Eu tenho amigos de esquerda que são até muito inteligentes”, completará.
A decisão de mostrar uma Odete ideologicamente mais explícita não é aleatória. A autora Manuela Dias parece ter optado por manter a essência da vilã original, que já criticava o Brasil e seus costumes, mas agora atualiza o discurso com tintas contemporâneas. O resultado é uma personagem que continua cruel e elitista, mas que agora encontra ecos reais e imediatos na política e no comportamento de parte da sociedade.
A confirmação ideológica de Odete ocorre durante um jantar, onde ela tenta convencer Solange a manipular Afonso (Humberto Carrão) em troca de um emprego em Paris. O embate entre as duas termina em confronto direto, e Odete sai da casa da nora humilhada — episódio que reforça ainda mais o abismo de valores entre elas.
A cena é emblemática porque mostra que Vale Tudo segue firme em sua proposta: discutir poder, privilégio e moral num Brasil que, mesmo décadas depois do original, continua reconhecendo figuras como Odete Roitman em sua realidade cotidiana. E agora, com RG ideológico confirmado.