Política
blogs e colunas, coluna da folha, colunista, colunista da folha, colunista Folha, colunista folha de s.paulo, Colunistas, Colunistas da Folha, colunistas folha, corte de gastos, economia, folha, folha colunistas, Joel Pinheiro da Fonseca, Lula, política, presidente do Brasil, PT
Estagiário
								
0 Comentários
Ninguém gosta de corte de gastos, mas não temos como evitar – 26/05/2025 – Joel Pinheiro da Fonseca
 
“O Estado não gera riqueza —consome”, disse o presidente da Câmara, Hugo Motta, em um post em que critica o governo pelo aumento do IOF. Isso não é estritamente verdade. Quando uma escola pública ensina crianças a ler, ou quando um policial prende um bandido, isso gera um valor enorme para a sociedade. Mas, de fato, o Estado, exceto pelo lucro de algumas estatais, não gera receita monetária. Ele precisa cobrar impostos para se financiar.
O Brasil cobra próximo de 32% do PIB em impostos. Isso é um valor alto para uma nação em desenvolvimento. O mercado, correta ou incorretamente, não confia no governo Lula. Crê que ele quer gastar sempre mais, que não tem compromisso nenhum com as contas públicas, que prefere medidas heterodoxas para combater a inflação e que, quando puder, passará a conta de seu gasto para o setor privado. Sendo assim, e querendo mudar essa percepção negativa, o governo deveria ser especialmente cuidadoso em suas mensagens econômicas.
No fim do ano passado, o governo meteu os pés pelas mãos ao misturar o anúncio de congelamento de gastos com o projeto de isenção do imposto de renda. Na quinta passada, fez de novo: junto do congelamento de R$ 30 bilhões em 2025, anunciou o aumento do IOF. Ao fazer isso, alimentou o receio de que queira barrar a saída de capitais do Brasil —medo que foi amenizado quando o governo voltou atrás em alguns pontos. Além disso, reforçou a ideia de que ele aposta no aumento da receita para cobrir o rombo das contas públicas.
“Executivo não pode gastar sem freio e depois passar o volante para o Congresso segurar”, diz Motta. Isso é a mais pura verdade. Mas o contrário também: o Congresso não pode minar os esforços do Executivo e depois se eximir da culpa. Quando o Executivo tentou corrigir isenções tributárias distorcivas, como o Perse ou a isenção para 17 setores econômicos, que poderiam ter aliviado a situação fiscal, o Congresso não deixou. Se o Congresso está preocupado com o gasto brasileiro, por que não cortar voluntariamente R$ 10 bi de emendas parlamentares de 2025? Ou um simbólico R$ 1 bilhãozinho do fundão eleitoral de 2026?
O governo vive uma situação difícil quando o assunto é carga tributária. Corte líquido de impostos piora a percepção da responsabilidade fiscal; já o aumento de impostos indica que o governo não está comprometido com o corte de gastos. O melhor, neste momento, seria não mexer na carga total. Tornar os impostos mais justos e mais eficientes, como, aliás, o governo tem feito, é uma boa. Mudar substancialmente a carga, sem um corte real de gastos antes, é apenas cutucar a ferida.
Buscar o ajuste via arrecadação é, ademais, ineficaz. Com despesas obrigatórias que variam de acordo com a receita, aumentos de impostos viram gasto adicional automaticamente. Não tem como escapar: o governo precisará reduzir o gasto.
E quando falamos de corte de gastos, não há caminho sem dor: fim dos supersalários, fim do piso automático de saúde e educação, desvincular salário mínimo e previdência, reforma previdenciária dos militares. Todo corte gera insatisfação; cabe escolher aqueles com menos impacto social na base da pirâmide. A boa política é aquela capaz de escolher o que é prioritário dentro das restrições. Fingir que as restrições não existem não nos ajuda em nada.
LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar sete acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.










Publicar comentário