A disputa ao Senado no Distrito Federal em 2026 pode opor o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) à ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL), diante da pressão de bolsonaristas pela aprovação do impeachment de ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) na Casa.

Com Michelle considerada favorita para o cargo, outros três candidatos do campo da direita pleiteiam a segunda vaga que estará em disputa: o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), a deputada federal Bia Kicis (PL-DF) e o desembargador aposentado Sebastião Coelho.

Enquanto Bolsonaro sinaliza apoio a Kicis, sobretudo por sua promessa de enfrentamento ao STF, Michelle tem demonstrado preferência por compor uma chapa com Ibaneis e a atual vice-governadora Distrito Federal, Celina Leão (PP), de quem é amiga. Celina é pré-candidata ao governo.

Diante da ofensiva bolsonarista pelo impeachment de ministros do STF, prerrogativa exclusiva do Senado, Bolsonaro acertou com o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, que terá a palavra final sobre os candidatos ao cargo.

O ex-presidente tem dito publicamente que a orientação do PL para as eleições do ano que vem é, sempre que possível, fazer uma composição com algum partido aliado para a indicação da segunda vaga ao Senado.

Apesar da promessa de aliança, parlamentares que acompanham as tratativas para 2026 ressaltam que há unidades da federação em que o PL tem chances de eleger os dois candidatos e lembram que a prioridade número um de Bolsonaro é o impeachment de ministros do Supremo.

Nas últimas eleições, o Distrito Federal deu mais de 58% dos votos a Bolsonaro. Na ocasião, a única vaga ao Senado em disputa foi ocupada com folga pela bolsonarista Damares Alves (Republicanos-DF), ex-ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos.

Procuradora aposentada, Kicis foi reeleita para a Câmara com a maior votação do Distrito Federal, 214 mil votos. Segundo relatos, Bolsonaro prometeu apoiar a candidatura dela ao Senado no próximo ano.

Integrantes do partido que defendem o nome da deputada dizem que ela é fiel ao ex-presidente, comprometida com a agenda contra o Supremo e que seria politicamente custoso para a base deixá-la de fora da disputa em detrimento de Ibaneis.

O aval de Bolsonaro a uma chapa “puro sangue” com Michelle e Kicis, entretanto, colocaria em xeque o acordo do partido com o MDB e o PP —composição que tem o apoio tanto da ex-primeira-dama como de Valdemar.

A situação poderia reeditar a queda de braço travada por Bolsonaro e sua esposa pela vaga do DF ao Senado nas últimas eleições.

Bolsonaro tinha prometido apoiar sua então ministra da Secretaria de Governo, Flávia Arruda, mas Michelle resolveu brigar por Damares. A ex-primeira-dama é de Ceilândia, a mais populosa região administrativa do Distrito Federal.

O resultado foi uma eleição com duros ataques, em que a então primeira-dama se engajou pessoalmente na campanha de Damares. Bolsonaro se ausentou, deixando Flávia desidratar.

Ibaneis foi reeleito governador do Distrito Federal em 2022 com o apoio de bolsonaristas, mas já disse em entrevista à Folha que não votaria pelo impeachment de ministros do STF.


Pessoas próximas ao governador afirmam que ele pretende procurar Bolsonaro para tentar diminuir a resistência do ex-presidente a seu nome.

Políticos que defendem a composição com o governador acrescentam que o emedebista foi reeleito em primeiro turno e que Bolsonaro pode se convencer quando as primeiras pesquisas eleitorais forem tornadas públicas.

Já o advogado e ex-desembargador Sebastião Coelho se filiou ao Novo e tem a garantia da legenda de concorrer ao Senado no ano que vem. Ele foi advogado de Filipe Martins no STF e ficou conhecido por críticas a Moraes.

À Folha disse que sua principal plataforma será “buscar a responsabilização dos ministros da corte”. Coelho contou que esteve com Bolsonaro há cerca de 15 dias para informá-lo de sua candidatura, mas afirmou que seria desrespeitoso pedir apoio neste momento.

“Fui dar o meu apoio a ele e dizer que apoio as causas [dele], considero Bolsonaro um perseguido político”, disse.

“Não tratamos de política. Seria desrespeitoso da minha parte pedir apoio tendo suas possíveis candidatas do PL, a senhora Michelle e a Bia Kicis, deputada brilhante”, completou.

O cenário no Distrito Federal fica ainda mais complexo, segundo políticos envolvidos nas conversas, diante da possibilidade de a ex-primeira-dama disputar a Presidência da República no lugar do marido; ou ainda de compor como vice uma chapa contra Lula. A princípio, é da preferência da família que ela seja candidata ao Senado.

Procurados pela reportagem, Ibaneis e Kicis não quiseram se manifestar. Michelle não retornou às tentativas de contato.



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