Não há dúvida de que a visão da ministra Marina Silva (Rede) sobre o manejo das questões ambientais está longe contar com a simpatia de boa parte do governo, a começar pelo presidente da República, cuja impaciência com certos entraves normativos da área ele nunca escondeu.
Até aí, nada de muito excepcional. Não há unanimidades na Esplanada, como bem podem atestar ministros sob a permanente mira dos fogos amigo e inimigo. Fernando Haddad, por exemplo, nessa lide tem se destacado.
A diferença de Marina para o colega da Fazenda é que ele não perde todos os embates enfrentados interna e externamente nem é entregue sozinho à sanha dos adversários que, por detectarem no ar o desprestígio, se sentem autorizados a desacatá-la —como fizeram de modo particularmente estúpido três senadores, na última terça (27), na Comissão de Serviços de Infraestrutura.
Uma afronta suprapartidária. Omar Aziz (PSD) a acusou, aos gritos, de “atrapalhar o desenvolvimento do país”; Marcos Rogério (PL) a mandou se pôr “no seu lugar”; Plínio Valério (PSDB) disse à ministra que não a respeitava. Por omissão, podemos acrescentar o líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT), que atribuiu o ocorrido ao “calor do debate”.
De frágil, Marina Silva só tem a falta de respaldo firme do governo, porque pessoalmente soube se defender com veemência, denunciando a intimidação e se retirando da audiência. Ficou péssimo para os agressores e não ficou bonito para Lula, que deu um telefonema solidário quando o caso requeria condenação.
Mas, entre a sustentação das posições da ministra do Meio Ambiente e o temor reverente ao presidente do Senado, cujas convicções ambientais se coadunam com as do trio Aziz-Rogério-Valério, o presidente da República prefere rezar no altar de Davi Alcolumbre (União Brasil).
Marina saiu-se bem do lance, mas isso não vai mudar a sua situação de derrotas em série num governo que a mantém na condição de troféu a ser exibido na prateleira da COP30, enquanto na rotina de medidas vai passando a boiada.
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