Uma liderança que estava à frente de famílias de posseiros e agricultores num assentamento em Anapu (PA), um dos lugares com mais conflitos agrários no país, foi assassinada na manhã desta sexta-feira (18). A informação foi divulgada pela Contraf (Confederação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar).

O ministro Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar) também divulgou um comunicado sobre o “covarde assassinato” de Ronilson de Jesus Santos.

A morte ocorreu na área do PDS (Projeto de Desenvolvimento Sustentável) Virola Jatobá, segundo informações da Contraf.

Esse assentamento rural, que parte do princípio da necessidade de preservação da floresta amazônica para o desenvolvimento da agricultura familiar, fica na mesma região onde a missionária Dorothy Stang, agente da CPT (Comissão Pastoral da Terra), foi assassinada há pouco mais de 20 anos, em 12 de fevereiro de 2005.

Dorothy foi morta por atrapalhar planos de grilagem a cargo de fazendeiros da região. Vinte anos depois, a região de Anapu e os assentamentos rurais existentes no curso da rodovia Transamazônica seguem marcados por violência na disputa pela terra.

Reportagem publicada pela Folha em 11 de fevereiro, por ocasião dos 20 anos do assassinato de Dorothy, mostrou que o PDS Virola Jatobá é um dos cinco assentamentos da região com conflitos mais recorrentes, segundo agentes da CPT.

A reportagem mostrou que a violência está mais perceptível no Virola Jatobá, com presença de invasores limpando áreas, ronda de pessoas ligadas a fazendeiros e grileiros, ação de madeireiros e atuação de posseiros com mais poder econômico que os assentados.

Segundo o Incra, o assentamento onde Dorothy foi assassinada e o PDS Virola Jatobá –criado em 2004, véspera da morte da missionária– não têm atos formais de consolidação, mas são considerados definitivos por força de um decreto de 2018, que considera um assentamento consolidado após 15 anos de implantação.

Existe uma ação na Justiça relacionada ao assentamento, e o Incra tenta retirar invasores.

Segundo a CPT em Anapu, Ronilson não era uma liderança de assentados do Virola Jatobá. Ele estava à frente de cerca de 80 famílias que ocuparam uma área de floresta do PDS, conforme a CPT. O lugar passou a ser denominado acampamento do Vale do Pacuru.

Ronilson, segundo os relatos de agentes da pastoral, buscou ajuda diante de ameaças que passou a sofrer na região, por parte de pistoleiros. Há pressão de madeireiros e grileiros pelas áreas, e também atuação de produtores de soja, conforme os relatos feitos.

Uma tentativa de solução junto ao Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) estava agendada para maio, a ser capitaneada por Ronilson, conforme a CPT.

Integrantes da CPT afirmaram que o homem lavava roupas quando foi assassinado. Foi encontrado por um dos filhos, que voltava da compra de peixes. Vizinhos dizem ter ouvido tiros, e não se sabe quantos disparos teriam sido feitos. O temor manifestado pela CPT é de que famílias do assentamento corram o mesmo risco.

Segundo o ministro Paulo Teixeira, Ronilson era líder na Contraf e tinha mulher e três filhos pequenos.

“A região é palco de conflitos entre agricultores e madeireiros. Estamos tomando providências para garantir que o crime não fique impune”, escreveu em sua conta no X.

O ministro do governo Lula (PT) disse ter conversado com Ualame Machado, secretário de Segurança Pública do Governo do Pará, de Helder Barbalho (MDB). “Conversei com o secretário para pedir investigação e proteção aos demais agricultores. Ele se comprometeu a enviar agentes ao local.”

O acampamento deve ser incluído em programa de proteção de defensores dos direitos humanos, conforme o ministro.

“O crime atinge diretamente um território de luta e resistência da agricultura familiar e reforma agrária, e dos povos da floresta”, afirmou a Contraf.



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