Atualmente, Hemocentro assiste 1.150 pessoas, a maioria crianças e adolescentes, em tratamento e reforça a importância conscientização
Por Aline Seabra (HEMOPA)
19/06/2025 11h40
No Dia Mundial de Conscientização sobre a Doença Falciforme, a Fundação Centro de Hemoterapia e Hematologia do Pará (Hemopa) reforça seu papel como referência estadual no diagnóstico, tratamento e acompanhamento das pessoas com a enfermidade genética, prevalente na população negra e associada a dores intensas, infecções, anemia e complicações em diversos órgãos.
O cuidado começa ainda na infância, por meio da triagem neonatal. O teste do pezinho, realizado gratuitamente na rede pública, permite o diagnóstico precoce da doença e o encaminhamento ao Hemopa, onde é iniciado o protocolo clínico indicado para esses casos.
“O diagnóstico é feito através do teste do pezinho. Com o resultado, o paciente é encaminhado para iniciar o tratamento com medicações adequadas para prevenir possíveis complicações”, explica a médica hematologista Saide Sarmento Trindade, que coordena o atendimento ambulatorial da instituição.
O Hemopa segue todos os protocolos estabelecidos pelo Ministério da Saúde para o tratamento da doença falciforme. Entre as medidas adotadas estão a profilaxia com penicilina e ácido fólico, uso de hidroxiureia (a partir dos nove meses de idade), exame Doppler transcraniano entre os dois e os 16 anos para prevenção de AVC, terapia com quelantes de ferro nos casos de sobrecarga e esquemas de transfusão crônica, com transfusões mensais de concentrado de hemácias filtrado e fenotipado, conforme indicação clínica. O atendimento é realizado por uma equipe multiprofissional e multidisciplinar, com foco no cuidado integral.
“O Hemopa é o serviço de referência no Estado para o acompanhamento das pessoas com doença falciforme. A atuação é feita por uma equipe multiprofissional e multidisciplinar, com orientações adequadas às famílias. É fundamental o acolhimento da enfermagem, a atuação da psicologia, do serviço social, odontologia, fisioterapia, fisiatria, assistência farmacêutica e também da pedagogia, que avalia o desenvolvimento cognitivo da criança”, detalha a hematologista.
Segundo dados da Coordenação de Ambulatórios (Coamb), cerca de 1.150 pacientes com doença falciforme são atualmente acompanhados pela Fundação Hemopa, incluindo moradores da capital e de diversos municípios do interior do estado. A maioria dos atendidos é composta por crianças e adolescentes, mas o serviço também acompanha adultos que vivem com a forma crônica da doença.
Em casos mais graves, o transplante de medula óssea é uma alternativa terapêutica. “Hoje é possível realizar o transplante para pacientes que têm um irmão 100% compatível, por meio do teste de histocompatibilidade. E estamos avançando para o transplante haploidêntico, com 50% de compatibilidade entre doador e receptor”, complementa Saide. O Hemopa realiza o acompanhamento clínico e o encaminhamento dos casos para centros transplantadores em outros estados do país.
A instituição também tem apostado na inovação terapêutica. Em parceria com o Hospital de Clínicas da Bahia, o Hemopa já realizou procedimentos com terapia celular voltados ao tratamento da osteonecrose asséptica, uma complicação ortopédica comum entre pessoas com doença falciforme. Os resultados apontam melhora significativa na mobilidade e qualidade de vida dos pacientes submetidos à técnica.
Além da assistência médica, o Hemopa é responsável pelo cadastro de doadores de medula óssea no Redome — Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea. O procedimento é simples e pode ser feito com a coleta de apenas 10 ml de sangue, contribuindo para a esperança de cura de pessoas com falciforme que aguardam por um transplante.
A paciente Aline Nunes Saraiva, que realiza tratamento desde o nascimento, destaca a importância dos investimentos em estrutura e tecnologia:
“Sou pessoa com anemia falciforme e faço tratamento desde que nasci. Quando o serviço de saúde investe em equipamentos, isso atende melhor às nossas necessidades específicas, torna os procedimentos mais eficazes e facilita a adesão ao tratamento. Dependendo da tecnologia, é possível até reduzir internações, evitando complicações mais graves. A longo prazo, isso representa economia para todos — tanto para os pacientes quanto para o sistema de saúde. Mais que um avanço técnico, é um ganho em qualidade de vida.”
A doença falciforme é uma das enfermidades hereditárias mais comuns no Brasil e impacta diretamente a rotina escolar, profissional e familiar dos pacientes. Por isso, o acompanhamento especializado e contínuo é essencial para garantir autonomia, qualidade de vida e inclusão social.
Nos últimos anos, o Hemopa também tem atuado fortemente na ampliação da hemorrede estadual. Foram entregues seis novas agências transfusionais nos municípios de Ourilândia do Norte, Bragança, Portel, Salinópolis, Santana do Araguaia, e também em Belém, com a implantação das ATs no Hospital Beneficente Portuguesa e no Hospital da Mulher. Na Região Metropolitana, foi inaugurado um novo posto de coleta de sangue no Pórtico Castanheira, com estrutura moderna e expectativa de aumento de até 20% nas doações.
O presidente da Fundação Hemopa, Paulo Bezerra, destacou o compromisso da instituição com o cuidado contínuo. “No Dia Mundial da Conscientização sobre a Doença Falciforme, a Fundação Hemopa ressalta a importância da atuação dos seus profissionais multiprofissionais, que acompanham diariamente o tratamento dos pacientes cadastrados. Essa é uma dedicação permanente da instituição para garantir mais qualidade de vida às pessoas atendidas”.
Serviço – O Dia Mundial de Conscientização da Pessoa com Doença Falciforme é celebrado em 19 de junho. No Hemopa, a programação comemorativa será realizada no dia 24 de junho, no CENTUR, das 9h às 12h. Estão previstas visita das crianças à brinquedoteca, lanche especial, apresentação do Coral Hemopa, teatro com alunos da Fibra e apresentação musical com Nilson Chaves (voz e violão).