O cardeal Robert Francis Prevost entrou no conclave sem favoritismo e saiu como papa Leão 14. Se a política brasileira fosse um conclave, minha aposta seria que o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, poderia ser o Prevost brasileiro nas eleições presidenciais de 2026. É alguém capaz de unir e promover consensos para superar a onda de ódio e mediocridade que domina o país desde 2013.
Mesmo sendo um político experiente, Paes é uma novidade na política brasileira atual. Digo novidade com cautela, pois imediatamente lembro-me de “novidades” como Pablo Marçal. Paes é uma novidade em seu quarto mandato como prefeito do Rio. Portanto, não se trata de um aventureiro com discurso antissistema. Sua consistência na política é semelhante à de Prevost na Igreja Católica: Paes governa a “diocese carioca” há 14 anos.
Bolsonaro mobilizou pessoas para ouvir o inflamado pastor Silas Malafaia atacar Alexandre de Moraes. Lula, depois do fiasco das comemorações do 1º de Maio do ano passado, parece não ter mais disposição para reunir multidões como fez anteriormente.
Já Eduardo Paes levou milhões às ruas com shows como os de Madonna e Lady Gaga em Copacabana. Antes disso, deu suporte municipal à Marcha para Jesus, reunindo multidões de evangélicos, e apostou na criação do Parque Terra Prometida, que incluirá espaços para celebrações religiosas e batismos.
Não se trata de pão e circo. Eventos dessa magnitude dependem diretamente da infraestrutura e da segurança oferecidas pela cidade.
Ao perguntar a um amigo carioca sobre a administração de Paes, ouvi prontamente: “Ele resolveu o problema do BRT. Agora a cidade tem um sistema de transporte que realmente funciona. Paes é um excelente administrador.” A reeleição dele em 2024, com 60,47% dos votos no primeiro turno, mostrou que meu amigo não está sozinho na avaliação.
Quando candidato à reeleição no ano passado, Paes foi acusado por extremistas religiosos de ir contra os valores da família por apoiar eventos como o Carnaval e grandes shows. E foi criticado por radicais secularistas por contar com apoio de lideranças evangélicas em sua campanha.
Sua resposta aos extremos foi clara: “Evangélicos não são pessoas de outro planeta. Eu acredito numa cidade e num mundo onde todos tenham voz, liberdade e seus direitos, respeitados.” E concluiu: “Eu tenho apoio da maioria dos cristãos católicos e evangélicos, da comunidade judaica, do povo do axé, das pessoas sem religião, mas que acreditam em Deus, e daqueles que não acreditam em nada, mas querem uma cidade melhor”.
Como pastor, tenho criticado frequentemente a instrumentalização das igrejas evangélicas pelo extremismo bolsonarista. Também não poupo críticas ao preconceito que setores da esquerda demonstram em relação aos evangélicos. Vejo nas ações de Paes um esforço de governar superando o desprezo da esquerda pelos religiosos e a manipulação das igrejas pela extrema direita.
A grande contribuição de Eduardo Paes é mostrar que o Brasil pode reunir multidões não pelo ódio, mas pela festa, alegria e paz.
Claro, isso precisaria ser combinado com Gilberto Kassab, o grande articulador da política nacional e patrocinador de Tarcísio de Freitas como sua primeira opção para o Planalto. Não é algo impossível, pois Kassab conserva um pé no governo Lula e já teve suas rusgas com o ex-presidente Bolsonaro.
Espero que as próximas pesquisas para presidente incluam Eduardo Paes na lista de candidatos. Quem sabe, em 2026, Copacabana mostre ao mundo que a era da polarização acabou e que “habemus” um Brasil brasileiro novamente.