A direita destacou pontos identificados por ela como positivos no depoimento de Jair Bolsonaro (PL) no STF (Supremo Tribunal Federal) e não respondeu massivamente à menção do ex-presidente de que apoiadores em acampamentos após as eleições de 2022 seriam “malucos”, aponta levantamento da Palver sobre a movimentação do tema nas redes.
Segundo a consultoria, destacaram-se narrativas sobre o ministro do STF Alexandre de Moraes como “ditador” e a ideia de que haveria uma perseguição política contra aliados de Bolsonaro.
A brincadeira do ex-presidente sobre formar chapa com o magistrado foi lida positivamente pelo grupo, que identificou nela um sinal de leveza, de acordo com a Palver.
Já na esquerda circulou principalmente a narrativa de covardia de Bolsonaro, além de pedido de punição para a tentativa de golpe que teria tentado impedir a posse do presidente Lula (PT).
Para fazer o levantamento, a Palver buscou por termos como “julgamento”, “interrogatório”, “tentativa de golpe” e “STF” em 99 mil grupos de WhatsApp e em outras plataformas, como X, antigo Twitter, e Telegram.
Foram feitas análises quantitativas, com estatísticas descritivas, e qualitativas, com a codificação de temas e narrativas. O período de análise foi de meia-noite do domingo (8) às 15h da quarta-feira (11).
“Em suma, as mensagens em aplicativos de mensagens buscaram imprimir uma imagem altiva do ex-presidente durante o depoimento, além de desqualificar seu julgador. A esquerda tentou explorar o desprezo demonstrado por Bolsonaro aos seus apoiadores mais radicais”, afirma a Palver.
De acordo com a consultoria, o volume de mensagens sobre o julgamento foi alto e, em alguns momentos, acima da média histórica de figuras como o próprio ex-presidente Bolsonaro. Os picos se concentraram nos finais da tarde dos dias de julgamento, principalmente no Telegram.
Os depoimentos dos oito réus acusados de participarem do núcleo central da suposta trama golpista de 2022 ocorreram nesta segunda (9) e terça-feira (10).
Foram interrogados Bolsonaro, Mauro Cid, seu ex-ajudante de ordens, Alexandre Ramagem, deputado federal e ex-chefe da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), Almir Garnier, ex-comandante da Marinha, Anderson Torres, ex-ministro da Justiça, Augusto Heleno, ex-ministro do GSI, Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa, e Walter Braga Netto, ex-ministro da Casa Civil e da Defesa.
Eles foram acusados pela PGR (Procuradoria-Geral da República) pelos crimes de golpe de Estado, tentativa de abolição do Estado democrático de Direito, associação criminosa armada, dano qualificado ao patrimônio público e deterioração do patrimônio tombado.
Segundo a Palver, entre grupos de direita circularam mensagens citando o que seriam estratégias de Moraes para evitar a revelação sobre a “farsa” do julgamento. Também houve destaque para colocar em dúvida, entre o grupo, a colaboração premiada de Mauro Cid.
Houve reações negativas na direita, mas não em grande quantidade, à fala de Bolsonaro classificando como “malucos” apoiadores que participaram de acampamentos realizados depois das eleições de 2022 pedindo intervenção militar. Segundo a Palver, não houve uma reação organizada em torno do tema.
Na época dos acampamentos, o político lançou discurso dúbio que incentivava os atos.
Já o convite, em tom de brincadeira, feito por Bolsonaro a Moraes para que este fosse seu vice de chapa foi retratado como demonstração de tranquilidade e inocência por seus apoiadores, que contrastaram a atitude com o comportamento de Lula quando este foi réu em processo da Lava Jato.
“A ironia [de Bolsonaro] durante o depoimento reforçaria a narrativa de que não houve golpe e que as acusações contra ele são infundadas, apesar da pressão política”, aponta a Palver. A atuação do ex-presidente, portanto, seria uma forma velada de criticar o Poder Judiciário.
Nos grupos de direita também prevaleceram mensagens de que o julgamento do ex-presidente seria um “embate político e espiritual”, envolvendo “forças malignas contrárias aos valores cristãos”, de acordo com a consultoria.
Já na esquerda a postura de Bolsonaro no julgamento foi lida como “submissa” perante o STF.
Com o comportamento, o político tentaria amenizar sua situação diante da possibilidade de prisão. Segundo a consultoria, o tom das mensagens revela uma leitura de que a ação do ex-presidente foi vista como “covarde e contraditória”.
Outros destaques em grupos de esquerda foram mensagens contra a impunidade de militares e pedidos por punição aos envolvidos.