Fernando Collor de Mello teve uma carreira política marcada por fracassos e uma atuação congressual lateral nestes 32 anos e meio desde que foi afastado da Presidência da República, em outubro de 1992, devido ao processo de impeachment.
Político de convicções ideológicas pastosas, também seguiu uma trilha errática de tentativa de alinhamentos a forças às vezes antagônicas, passando por Lula e Dilma Rousseff, do PT, Michel Temer, do MDB, e, mais recentemente Jair Bolsonaro, do PL.
O objetivo aparente sempre foi a conveniência eleitoral em Alagoas, aliada aos benefícios oferecidos pela máquina federal. Apesar de alguns dos políticos com os quais ele se associou tentarem, na medida do possível, evitar uma vinculação direta, também nunca houve, por parte deles, uma rejeição explícita.
Collor tentou voltar à política em 2000 disputando a prefeitura da maior cidade do país, São Paulo, mas foi impedido pela Justiça. Dezoito anos depois, pleiteou concorrer novamente à Presidência da República, mas foi barrado pelo próprio partido à época, o nanico PTC.
Nas cinco eleições que conseguiu disputar em sua volta, perdeu três —todas para o Governo de Alagoas— e venceu duas para o Senado, onde cumpriu mandatos apagados, militando quase sempre no grupo de congressistas conhecido como baixo clero, aquele sem relevante projeção ou influência nacional.
Assim como o último aliado (Bolsonaro), Collor nunca se amparou nessas três décadas em sólidas e tradicionais agremiações políticas e partidárias, o que pode ser vislumbrado em sua carteira de filiações.
Arena (o partido da ditadura), PDS, PMDB, PRN, PRTB, PTB, PTC, Pros e PTB de novo —sigla pequena que se fundiu ao Patriota, criando o PRD, que se apressou em anunciar a expulsão do ex-presidente após o anúncio da prisão pelo STF (Supremo Tribunal Federal).
Antes de chegar ao Palácio do Planalto Collor foi aliado do então presidente José Sarney (PMDB), com quem logo rompeu, elegendo-o como alvo preferencial na campanha de 1989, ocasião em que o qualificava, entre outros atributos, como “o maior batedor de carteiras da história”.
Devido a isso, Collor saiu do PMDB e disputou a eleição pelo PRN, o Partido da Reconstrução Nacional, sigla de anos no naniquismo partidário —antes se chamava Partido da Juventude, mudou para PRN em 1989, virou PTC em 2000, e Agir a partir de 2022.
Após perder o cargo no impeachment, Collor passou uma temporada no exterior e no final dos anos 1990 iniciou o processo de tentativa de volta à política. Na tentativa de concorrer à Prefeitura de São Paulo pelo nanico PRTB, o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) cassou sua candidatura por entender que seu período de inelegibilidade ainda não havia se esgotado.
No período, já dava declarações favoráveis à candidatura presidencial de Lula, o rival com quem havia disputado o segundo turno das eleições presidenciais de 1989.
Em 2002, tentou voltar ao Governo de Alagoas, mas foi derrotado por Ronaldo Lessa (PSB) no primeiro turno.
Quatro anos depois, em 2006, obteve a primeira vitória eleitoral após o impeachment, elegendo-se senador por Alagoas, dessa vez batendo Lessa. Assim que chegou ao Senado, trocou o nanico PRTB pelo PTB de Roberto Jefferson, o líder da tropa de choque da Câmara que tentou barrar o seu impeachment na década anterior.
Na eleição de 2010, Collor disputou novamente o Governo de Alagoas, dessa vez tentando surfar na então popularidade de Lula, que conseguiria naquele ano emplacar Dilma como sua sucessora.
“É Lula apoiando Collor, é Collor apoiando Dilma, pelos mais carentes. É Lula apoiando Dilma, é Dilma apoiando Collor. E os três para o bem da gente”, dizia seu jingle de campanha.
Collor, porém, sofreu o vexame de nem ir para o segundo turno, disputado por Teotônio Vilela (PSDB) e Ronaldo Lessa (PDT).
Em 2014, ele se reelegeu senador por ampla margem —56% dos votos válidos contra 32% da segunda colocada, Heloísa Helena (PSOL), mas a atuação no Congresso seguiu sem grandes destaques.
Após romper com Dilma na época de vacas magras da petista e do petismo, em 2016, Collor votou a favor do impeachment e manteve boas relações com a gestão de Michel Temer (MDB).
Em 2018, ano da vitória de Bolsonaro, o então senador pleiteou disputar novamente a Presidência da República, mas não conseguiu aval do PTC, o partido da época. A sigla acabou aderindo à candidatura de Álvaro Dias (Podemos), que ficou em nono na disputa.
A última investida eleitoral de Collor foi em 2022, quando tentou novamente voltar a governar Alagoas, o cargo que o havia projetado no final dos anos 1980 para a Presidência.
Nessa eleição, e apostando na onda de direita que havia chegado com peso ao país quatro anos antes, o ex-presidente declarou voto e fez campanha para Bolsonaro, que em 2005 o usava como exemplo de corrupção para atacar Lula.
Bolsonaro retribuiu. Em evento no interior de Sergipe em maio de 2022, tendo Collor e vários políticos do centrão ao seu lado no palanque, o então presidente afirmou que Collor era um grande aliado no Parlamento e que o Brasil estava se livrando da “velha política”.
Assim como Bolsonaro, Collor não conseguiu êxito. No seu caso, porém, a derrota foi por goleada. Ficou em terceiro novamente e não conseguiu ir para o segundo turno.