A Associação de Moradores do Pacoval, localizada no município de Soure, no Marajó, vai ser palco de mais uma celebração da cultura popular marajoara no próximo sábado, 5 de setembro, com a apresentação do espetáculo “Batuque de Preamar”. A partir das 20h, o público poderá contemplar e até fazer parte de uma conexão profunda com as raízes culturais da região, fortemente influenciadas pelo legado do Mestre Dikinho, um dos maiores poetas do arquipélago.
Como o próprio nome do show antecipa: a poesia vira som quando o rio encontra o mar, e foi graças à riqueza intercultural da arte produzida marajoara que o projeto foi contemplado na última edição do Edital Casa Aberta Amazônia Paraense, promovido pela Casa da Cultura de Canaã dos Carajás, equipamento do Instituto Cultural Vale. A programação ocorre durante o Festival de Cerâmica do Marajó.
O Batuque de Preamar é um grupo musical sourense que propõe um potente encontro intercultural por meio da música, mergulhando na poética da vida marajoara, com especial inspiração na vivência da pesca e nas tradições do arquipélago do Marajó.
O grupo é composto por músicos e artistas de diferentes gerações e unidos pelo mesmo propósito: a valorização da identidade local e com a difusão da música popular amazônica: Amilton Lima, Adriel Brandão, Brisa Sousa, Mestre Eliezer Brandão, Nena (Edielcimar Castro) e Paulo Bararua, além do jovem compositor Yuri Guimarães, que assina canções inéditas com influência de bossa nova, carimbó, côco, toada e lundu. “Este show revela a força da cultura marajoara em constante renovação. Mais que música, é memória, resistência e orgulho coletivo”, afirma Ana Oliveira, produtora do projeto.
Musicista, defensora da cultura popular e ativista ambiental, Brisa Romana Sousa dos Santos nasceu em Belém e foi radicada em Soure-Marajó. Aos 23 anos, a integrante do grupo tem uma trajetória marcada pelo ativismo cultural e a valorização da presença feminina no carimbó.
“Editais como o Casa Aberta dão condições reais de fortalecer a cultura marajoara. Muitas vezes temos ideias e vontade de fazer, mas sem apoio fica difícil tirar do papel. Esse show foi pensado especialmente para ser mais que uma apresentação musical: quisemos trazer a poesia da vida ribeirinha, da pesca e, principalmente, a memória do mestre Diquinho, que é uma das nossas maiores inspirações”, analisa Brisa.
Os educadores da Casa da Cultura de Canaã dos Carajás, Arlen Vilhena e Thiago Bragança, participam da programação em uma vivência cultural junto ao festival no Marajó. “Nossa participação acontecerá em uma mediação com os fazedores de cultura lá de Soure, quando teremos o contato com o fazer musical deles. Este intercâmbio se faz importante porque será uma forma de aprender mais sobre a cultura tradicional desta localidade e nos possibilitará trazer para os alunos da Casa, em Canaã, as percepções aprendidas na cidade marajoara, tanto no ritmo, quanto na musicalidade, no canto”, declara Thiago.
Batuque de Preamar
Criado em 2024, o grupo tem como grande referência artística o legado de Mestre Dikinho, cuja obra transita com naturalidade entre gêneros como carimbó, toada, samba-enredo, bossa nova e jazz. Com uma formação que valoriza os tambores como base sonora, mantendo o elo entre tradição e contemporaneidade, o Batuque de Preamar busca fortalecer e celebrar a riqueza intercultural marajoara, apresentando ao público um repertório que rompe estereótipos e amplia as visões sobre a arte produzida na região.
Além de homenagear mestres como Regatão, Zezinho Viana, Ronaldo Silva e Dorival Caymmi, o grupo propõe um espetáculo que atravessa gerações e territórios, valorizando a diversidade cultural do Marajó com poesia, ritmo e ancestralidade.