O ex-ministro Aldo Rebelo disse que o ministro do STF Alexandre de Moraes tentou intimidá-lo durante audiência da ação penal sobre tentativa de golpe de Estado, na sexta-feira (23).

“Na verdade, o que houve ali foi uma tentativa de intimidação de testemunha”, disse Aldo ao UOL. “O juiz pode desconhecer o depoimento, pode não considerar. Agora, como agiu, pressionar testemunha, não.”

Moraes ameaçou prender Aldo durante o depoimento. O fato ocorreu após o ex-ministro dos governos Lula e Dilma Rousseff responder a um questionamento do próprio ministro do STF. Aldo é testemunha de defesa do ex-comandante da Marinha Almir Garnier no processo.

“Acho que [Moraes] deveria pedir desculpas”, disse neste sábado (24) ao UOL. “Talvez, não quisesse fazer isso na hora, mas pode fazer depois”, completou. Aldo está em Santarém (PA), onde participou de uma palestra.

Embora tenha sido ministro de Lula e Dilma e filiado ao PC do B, Aldo se distanciou da esquerda nos últimos anos e se aproximou do bolsonarismo. Em 2024, foi nomeado para o cargo de secretário de Relações Internacionais do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), então candidato do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) nas eleições municipais.

“Talvez, em algum momento, ele [Moraes] vá me pedir desculpas pelo ocorrido. É o que eu espero que venha a acontecer”, disse Aldo ao UOL.

O ex-ministro da Defesa afirmou também que não achou que seria preso nem se sentiu ameaçado por Moraes. Ele contou ter visto o ministro do STF “uma vez ou duas” em cerimônias de posses na corte, mas não teve reuniões nem “conversa prolongada” com Moraes.

O UOL entrou em contato com a assessoria do STF. O espaço está aberto para manifestação do ministro.

Aldo tentou minimizar atuação de Garnier. No depoimento, ele falava sobre o uso de “forças de expressão” em referência à frase que teria sido dita por Garnier ao ex-presidente Bolsonaro na reunião com os comandantes das Forças Armadas em novembro de 2022.

Garnier falou em “colocar as tropas à disposição”, o que é um dos principais pontos da denúncia contra Bolsonaro. Ex-comandantes do Exército e da FAB (Força Aérea Brasileira) afirmaram que ele foi o único dos chefes das Forças Armadas a sinalizar apoio ao plano golpista. A defesa dele tenta contestar essa versão.

Aldo foi interrompido por Moraes. O ministro questionou se ele havia presenciado a reunião dos comandantes militares com Bolsonaro. Ele negou. Moraes mandou que ele tratasse apenas dos fatos.

Na sequência, Aldo respondeu: “Eu não admito censura”. Moraes mandou que ele se comportasse, caso contrário, seria “preso por desacato”. Após o diálogo tenso, a defesa de Almir Garnier retomou os questionamentos e não voltou mais para a discussão sobre a expressão.

Ao final, Aldo respondeu à pergunta da defesa do militar e explicou como funciona a cadeia de comando na Marinha.

Moraes em seguida pediu que a audiência transcorresse de maneira regular. Ele disse que respeitava o advogado de Garnier, Demóstenes Torres, e exaltou o currículo de Aldo após a pergunta da defesa se a Marinha sozinha possuía condições de dar um golpe de Estado.

“Não há conhecimento técnico para saber se a Marinha sozinha consegue dar um golpe de Estado. Aldo Rebelo é historiador e inteligente, ele sabe, por exemplo, que em 64 não precisou de toda a cadeia de comando para dar o golpe de Estado. Por favor, doutor Demóstenes, tenho o maior respeito pelo senhor, mas vamos levar isso com regularidade.”

O procurador-geral Paulo Gonet também chamou a atenção de Aldo Rebelo. “Quem faz as perguntas são os advogados e o procurador.”

O ex-ministro da Defesa chegou a comentar que tinha interesse nos fatos, ao que o Moraes encerrou o assunto. “Se o senhor quer saber, depois o senhor vai ler na imprensa.”



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