O Nepal, um pequeno país encravado entre a China e a Índia, vive em setembro de 2025 uma das maiores convulsões sociais de sua história recente. Protestos massivos da Geração Z, desencadeados pelo bloqueio de redes sociais e alimentados pelo descontentamento com a corrupção e o nepotismo, deixaram 19 mortos, centenas de feridos e prédios públicos em chamas. O primeiro-ministro K. P. Sharma Oli já renunciou, mas a revolta não deu sinais de recuo.

A violência do Estado, o uso de balas reais contra civis e a militarização da capital Kathmandu levantam a pergunta inevitável: o Nepal está à beira de uma nova guerra civil?

Nepal: democracia jovem, elites antigas

Apesar de ser uma república desde 2008, após a queda da monarquia, o Nepal ainda carrega as marcas de uma política dominada por elites familiares e por acordos de bastidores. O bloqueio das redes foi a gota d’água que uniu uma juventude conectada, mas sem perspectivas de emprego e participação política, contra um sistema que parece se repetir em ciclos de crise.

O alerta para o Brasil

Pode parecer distante, mas o que acontece no Nepal ecoa em democracias frágeis como a brasileira. Algumas semelhanças chamam atenção:

  • Desconfiança generalizada nas instituições → no Brasil, escândalos de corrupção e a judicialização da política criam um ambiente de instabilidade que lembra, em escala diferente, a falta de credibilidade da elite nepalesa.
  • Juventude conectada e indignada → assim como no Nepal, os jovens brasileiros usam redes sociais como canal de mobilização, e qualquer tentativa de censura digital seria vista como ataque direto à liberdade.
  • Polarização e risco de violência → embora o Brasil não esteja às portas de uma guerra civil, a radicalização política e os episódios de 8 de janeiro de 2023 mostraram como a erosão institucional pode rapidamente descambar para a violência.

A linha tênue entre revolta e guerra civil

O Nepal ainda não vive uma guerra civil no sentido clássico, mas já exibe sintomas perigosos: Estado enfraquecido, repressão violenta, crise de representatividade e juventude mobilizada nas ruas. Esses elementos, se combinados com armas e disputas territoriais, são suficientes para mergulhar uma nação em conflito interno prolongado.

Para o Brasil, a lição é clara: democracia não se sustenta sem transparência, renovação política e confiança social. O abismo que separa revolta popular de guerra civil é mais curto do que parece.



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