Filho mais velho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) diz que, para receber o apoio do pai, o candidato à Presidência deve não só conceder indulto ao seu pai, mas brigar com o Supremo por isso, se for preciso.
Perto do desfecho do julgamento que pode condenar Bolsonaro pela trama golpista, Flávio insiste na candidatura do pai em 2026, mas já fala com mais abertura sobre um cenário sem ele —e sobre a principal credencial para um eventual sucessor.
“Estou fazendo uma análise de cenário. Bolsonaro apoia alguém, esse candidato se elege, dá um indulto ou faz a composição com o Congresso para aprovar a anistia, em três meses isso está concretizado, aí vem o Supremo e fala: é inconstitucional, volta todo mundo para a cadeia. Isso não dá”, diz em entrevista à Folha.
Flávio fala até em uso da força, mas diz não saber o que um presidente poderia fazer caso um indulto fosse derrubado. O senador afirma que o único “remédio” contra mais confusão no país é uma anistia ampla, inclusive para o ministro Alexandre de Moraes.
A discussão de ‘alternativas constitucionais’ admitida por Bolsonaro não configura afronta ao resultado das eleições? Afronta não. Ele estava buscando, dentro da legalidade, o que dava para fazer. Até porque não é um decreto que ele assina e, no mesmo dia, estão tropas nas ruas, prende todo mundo, como naquela maluquice do plano [Punhal] Verde e Amarelo [que planejaria a morte de autoridades]. Se tivesse assinado, poderiam falar: ‘Realmente, ele iniciou um processo’. Agora, você pensar sobre isso?
Discutir golpe não é crime? Não é discutir golpe, esse é o ponto. Dentro da Constituição, tem lá estado de sítio e estado de defesa. Quem fala hoje isso são os mesmos que dizem que a Dilma [Rousseff] sofreu um golpe. Foi dentro da Constituição. É forçar muito a barra, e isso é o que faz com que as pessoas se sensibilizem com Bolsonaro.
O sr. concorda quando ele diz que a prisão seria o fim da vida dele? Acho que ele tem que ser absolvido, para começar. Ele acha que vão fazer alguma coisa com ele na prisão. Um envenenamento, algum atentado. Ele já foi vítima de uma tentativa de assassinato.
Morreu o debate sobre anistia? Não, está mais vivo do que nunca. Para mim, a anistia é a saída honrosa para todo mundo. Para o Supremo, para o Alexandre de Moraes e para o Congresso, que está sendo muito humilhado em todo esse processo por ter deixado de defender institucionalmente parlamentares.
A anistia seria uma saída honrosa para Bolsonaro? Para todo mundo, ele também. Uma pessoa que quer dar golpe de Estado nomeia o comandante de Força do Lula? Qual a lógica? Não cola. E nessa anistia tem que entrar o Alexandre de Moraes porque, no meu ponto de vista, ele cometeu vários atos de abuso de autoridade ao longo desse processo.
Se acontecer de o Bolsonaro ser condenado, a gente não sabe qual vai ser a reação do povo, a reação internacional. Tem coisas que não estão no nosso controle. Acho que é muito ruim eles [ministros do STF] insistirem nesse caminho porque aí a confusão vai se estender por muito mais tempo. A pauta de impeachment de ministro vai ser uma das principais da eleição.
Um indulto a Bolsonaro seria uma condição para o apoio dele ao candidato da direita? Muito além disso. Por isso que eu estou falando que a anistia é o remédio. Porque, vamos supor, aconteceu essa maluquice de condenar Bolsonaro. Ele está inelegível, vai ter que apoiar alguém. Não só vai querer apoiar alguém que banque a anistia ou o indulto, mas que seja cumprido. Porque a gente tem que fazer uma análise de cenário também de que, na hipótese de o presidente dar um indulto para Bolsonaro, o PT vai entrar com um habeas corpus no STF. [Vão declarar que] é inconstitucional esse indulto. Então vai ter que ser alguém na Presidência que tenha o comprometimento, não sei de que forma, de que isso seja cumprido.
Mas como? É uma hipótese muito ruim, porque a gente está falando de possibilidade e de uso da força. A gente está falando da possibilidade de interferência direta entre os Poderes. Tudo que ninguém quer. E eu não estou falando aqui, pelo amor de Deus, no tom de ameaça, estou fazendo uma análise de cenário. É algo real que pode acontecer. Bolsonaro apoia alguém, esse candidato se elege, dá um indulto ou faz a composição com o Congresso para aprovar a anistia, em três meses isso está concretizado, aí vem o Supremo e fala: é inconstitucional, volta todo mundo para a cadeia. Isso não dá. Certamente o candidato que o presidente Bolsonaro vai apoiar vai ter que ter esse compromisso, sim.
Mas qual seria a alternativa? Vamos supor que isso aconteça. Aí não tem mais remédio que exista para você fazer uma pessoa insana como o Alexandre Moraes voltar à normalidade, não achar que é o dono do Brasil, que tem a própria Constituição.
Obviamente, o presidente, na hora de escolher um candidato, vai levar em consideração isso. Agora, [o candidato] se compromete em fazer o quê? Não sei. Mas alguém que tenha disposição, de alguma forma, de fazer com que o STF respeite os demais Poderes. Fazer com que o Alexandre de Moraes não continue sendo o dono dos votos de outros ministros, como parece.
O que o sr. está pedindo não é um candidato que possa afrontar o STF? É um candidato que possa resgatar a democracia. Vai depender do ponto de vista, está vendo?
Um candidato que esteja disposto a brigar por isso. Acho que sim, porque não tem outro caminho. Se continuar nessa toada, o Brasil não vai estar em uma democracia, porque é uma interferência direta de um Poder no outro. A competência exclusiva para dar um indulto é do presidente. Esse precedente só mudou porque era o [ex-deputado bolsonarista preso por ordem do STF] Daniel Silveira, porque o presidente era o Bolsonaro. Aí inventam-se teses. É uma análise de cenário que tem que ser levada em consideração na hora de tomar decisões agora.
Quem teria esse perfil hoje? Ninguém vai assumir “sou o candidato que vai fazer isso ou aquilo”. Não adianta a gente ficar especulando nomes. Vai ter que ter uma habilidade para evitar que isso aconteça e, ao mesmo tempo, fazer com que as coisas voltem à normalidade. Mais uma vez: estou disposto a ser um canal aberto para pensar junto o que fazer e insistindo que o caminho honroso é a anistia.
O sr. diz ser candidato à reeleição ao Senado; isso é imutável? O nome do sr. já surgiu como opção para presidente. Imutável. Eu fico lisonjeado. Acredito que o presidente vai poder registrar a candidatura porque as duas condições de inelegibilidade que ele tem são muito frágeis.
A espera por uma decisão que reverta a inelegibilidade não prejudica a direita? Em uma eleição presidencial polarizada do jeito que está, não faz muita diferença. Vamos supor que Bolsonaro resolva que o candidato é fulano ou fulana de tal —tem mulher também. Com toda a visibilidade, independente da condição em que ele esteja, vai ser cabo eleitoral. Para quem ele apontar o dedo vai estar eleito.
A família Bolsonaro apoiaria uma chapa sem um nome Bolsonaro? Aí você tem que perguntar para o dono da franquia, que é o Bolsonaro, né? Ele é o dono da marca [risos].
O que o sr. defende? Que ele me apoie ao Senado.
E Eduardo? Que seja candidato ao Senado.
E Michelle? Que seja candidata ao Senado.
Aliados falam que uma chapa Michelle-Tarcísio de Freitas seria imbatível, ou Tarcísio-Michelle. Pode ser de cima, de frente, de trás, de lado. É uma chapa imbatível, assim como qualquer outro candidato, Ratinho [Jr.], [Romeu] Zema, [Ronaldo] Caiado, todos esses vão ganhar do Lula.
Bolsonaro cobrou apoio publicamente. Ele se sente abandonado? Tem muita gente que gosta de pedir apoio, mas não quer ter o ônus de ombrear com ele nessa batalha de deixá-lo elegível novamente. As pessoas têm que fazer o exame de consciência para merecerem o apoio do Bolsonaro. É na dificuldade que você sabe quem são os amigos e quem são as pessoas reais.
Tem muito oportunista? Tem um monte.
RAIO-X | Flávio Bolsonaro, 44
É senador da República, advogado e empresário. Deputado estadual de 2003 a 2018, disputou a prefeitura do Rio de Janeiro em 2016, ficando em quarto. É o filho mais velho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).