A Polícia Federal pediu, e a PGR (Procuradoria-Geral da República) autorizou, nesta segunda-feira (9), a abertura de uma investigação contra Gilson Machado (PL), ex-ministro do Turismo do governo Bolsonaro. A peça foi enviada nesta terça-feira (10) ao STF (Supremo Tribunal Federal), que deve dar a decisão final.
A suspeita é que Machado tenha atuado junto ao consulado de Portugal em Recife, no mês passado, para obter a expedição de um passaporte português em favor do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, segundo suspeitas da Polícia Federal.
O intuito, segundo a peça assinada pelo procurador-geral Paulo Gonet, com informações da polícia, seria viabilizar a saída do militar do território nacional. O ex-ministro, porém, não teria obtido êxito na emissão do documento. Procurados, Machado e a defesa de Cid ainda não se manifestaram.
Gonet afirma que, dentro deste contexto, pode ser possível que Machado busque alternativas junto a outras embaixadas e consulados com o mesmo objetivo.
Como medidas, foram pedidas medidas cautelares de busca e apreensão, pessoal e domiciliar e afastamento dos sigilos dos dados telemáticos e telefônicos contra o investigado deste ano.
Segundo o documento, a PF teria ressaltado que, conforme arquivos armazenados no telefone celular de Mauro Cid, o militar teria procurado o serviço de assessoria para obtenção da cidadania portuguesa em janeiro de 2023.
De acordo com as investigações, na ocasião, ele enviou imagens de sua carteira funcional, comprovante de cidadania portuguesa e do passaporte português de sua mãe.
“A análise das informações reunidas pela Polícia Federal indica a necessidade de complementação das diligências investigavas, a fim de possibilitar um juízo adicional e mais abrangente sobre a autoria das condutas apuradas”, ressaltou Gonet.
O ex-ajudante de Bolsonaro prestou depoimento ao STF nesta segunda, na primeira sessão com acusados de integrar o núcleo principal da trama golpista do dia 8 de janeiro.
Cid afirmou que o ex-presidente recebeu e editou no fim de 2022 uma minuta de decreto que previa a prisão de autoridades, como ministros do Supremo e integrantes do Legislativo, e a criação de uma comissão para organizar novas eleições presidenciais.
Segundo Cid, Bolsonaro alterou a minuta do decreto golpista algumas vezes. “Ele enxugou o documento, retirando as autoridades das prisões. Só o senhor ficaria preso”, disse Cid ao ministro Alexandre de Moraes.
O tenente-coronel também afirmou ao Supremo que o ex-presidente pressionava o ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira, para incluir suspeitas de fraudes no relatório das Forças Armadas sobre a fiscalização do processo eleitoral entregue ao TSE.
“A conclusão mais técnica dos militares que estavam na comissão dizia que não foi encontrada fraude. O presidente Bolsonaro não queria isso, talvez incluísse as denúncias que foram levantadas. Algo para dar uma conotação de que havia fraude nas eleições”, disse.
Já Gilson Machado lançou, no último mês, uma campanha nas redes sociais para pedir doações para o ex-presidente. Ele argumentou que o dinheiro serviria para Bolsonaro pagar advogados, despesas pessoais e os gastos do deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) nos Estados Unidos, onde ele está desde março alegando perseguição do STF.